Hoje acordei as onze horas da manhã e passei o dia sentindo saudades
Sonhei com o pai, nos olhávamos com tanto carinho -
Esse desconhecido, esse de quem sou cópia, a quem pertence metade do eu-embrião, esse quem me viu mas eu não vi.
Eu não o vi.
Não o escutei.
Será que sua voz ainda ressoa entre minhas membranas?
Seria ela um canto infinito, atingindo músculos e veias capilares ao contar dos anos, dos fios de cabelo, do meu crescimento?
Eu o vi e éramos íntimos. Tinha olhos verdes, mas pelo que sei, ele não tinha olhos verdes.
Ele era uma fotografia feliz, em movimento
Quem é ele? Sei o que escutava, porque os discos ficaram pra mim mas
Quem é você?
Estranho que me fez, mal me criou e partiu para um lugar só acessível nos sonhos.
Eu nunca pensei muito em você.
Como pensar em alguém que só sei porque me contaram que era de tal jeito, que ria assim, que sempre que ia nos restaurantes pedia uma pizza só pra ele, que uma vez de tanta raiva pegou o rodo e bateu bateu bateu no vaso sanitário entupido até que o cabo de madeira quebrou.
Eu não sei criar personagens. Vocês todos estão na minha vida.
Vou te construindo um boneco. Vão me contando e aos poucos ponho as roupinhas, colo as unhas dos dedos, desenho as máscaras para cada feição, cada situação. Eu gostaria de saber quem você é.
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