Aposta Hilda, então, na ideia do hermético, não como um muro intransponível, mas, seguindo o pensamento do filósofo Soren Kierkegaard, que não se cansava de ler, como “o escudo que os homens usam para se fecharem dentro de si mesmos”. O hermetismo – a fronteira, a pele, o limite – é uma defesa necessária do humano. Por isso, toda literatura é “hermética”: ela “prende” uma parte do mundo em uma moldura de beleza. A ficção deixa, assim, de ser pura razão (saber), ou puro sonho (fantasia), para se tornar uma espécie de abrigo em que guardamos e alimentamos o que temos de mais precioso. O que guardamos? O que podemos ser e não somos.
A ficção – e a poesia é apenas outra forma de ficção - é a confluência da expansão com o limite. É uma expansão que enquadra – é uma expansão que traça uma fronteira. Hilda sempre defendeu a ideia de que as máscaras são armas indispensáveis à salvação humana. Só mascarados (só em “estado de ficção”) conseguimos, enfim, nos ultrapassar. Fascinada pelas ideias do Oriente, Hilda via a ficção como um espaço para o satori, isto é, para a iluminação. A luz plena sem a proteção de um anteparo cega em vez de iluminar. Ainda assim, essa proteção — como um quebra-luz — não nos traz promessa alguma de felicidade. Mesmo mascarados e distanciados, não temos o direito de nos iludir. Pergunta Hilda, a propósito: “Pode ser feliz quem sabe que caminha para a morte?”
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