quarta-feira, 7 de julho de 2021

Eu sei que demora

Para um corpo estragar
Para um corpo realmente ficar ruim
E expelir só uma massa amarela fedorenta
Mas hoje, na estrada com minha mãe 
vi um homem de chinelos atravessar a rodovia cheia de carros
Nesse momento Eu dizia que penso que demora muito para um corpo se estragar ainda em vida
É preciso muita coca-cola, fritura, álcool, fumo
Ou só uma genética mesmo muito ruim
Mas eu também dizia
Enquanto via aquele homem de chinelos atravessar a avenida perigosa
Eu dizia que eu penso que a vida é ao mesmo tempo muito frágil 
Um fio tão fino e
fatal
como a possibilidade do tropeço desse homem de chinelos no meio da rodovia
 
Como a possibilidade de um homem erguer uma vara daquelas limpadoras de piscina para pegar uma peteca no tobogã e essa vara de metal nem estar tão perto mas perto o suficiente para puxar a energia de um fio desencapado no poste da rua e uma descarga de não sei quantos mil kilowatts eletrizar o corpo do seu pai no churrasco de família 
E sua mãe,
Que dirige esse carro em que você está
Ter socorrido ele.

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